terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Brasil precisa dos professores

> Folha de São Paulo, 10/02/2011 - São Paulo SP

Mais que manter e reformular a progressão continuada, o governo de São Paulo fará a reorganização dos ciclos dos ensinos fundamental e médio
HERMAN VOORWALD
A Folha tem apresentado nesta mesma seção importantes contribuições para a discussão pública do modelo da progressão continuada no ensino fundamental do Estado de São Paulo, em acréscimo aos editoriais, artigos e reportagens que já haviam tratado desse tema. Em atenção às diversas opiniões sobre o assunto, cabe esclarecer que, muito mais que manter e reformular a progressão continuada, o governo de São Paulo realizará a reorganização dos ciclos dos ensinos fundamental e médio do Estado, tendo como objetivos, entre outros, a melhoria da qualidade da formação dos seus alunos e sua preparação para a cidadania e o mercado de trabalho. O desafio de melhorar a educação pública paulista exige não só inovações na política de governo, mas também assegurar os avanços conquistados em gestões anteriores, que reverteram expectativas pessimistas na educação.

A partir de 1995, com os governos Covas e Alckmin, São Paulo implantou medidas com foco na universalização do acesso à escola, na correção das distorções de idade/ série e na redução da evasão. Hoje, quase 99% da população de sete a 14 anos do Estado está na escola. Na faixa de 15 a 17 anos, há 86,4% de alunos, maior índice do país. Com a gestão Serra, mais recentemente, tivemos a padronização curricular, com orientações aos docentes para todas as séries, inclusive por meio dos programas Ler e Escrever e São Paulo Faz Escola. Avançamos também com as avaliações das escolas e as metas de qualidade, que proporcionam um olhar mais detalhado do sistema educacional. Outra inovação relevante foi o programa de incentivos por meio de bônus por resultados, no qual as escolas têm metas de qualidade que, se alcançadas, geram até 2,9 salários a mais no ano para seus servidores. Todas essas conquistas serão mantidas pelo atual governo. Mas esta gestão não se limitará a elas. É preciso modernizar a estrutura da Secretaria da Educação, que gerencia cerca de 5 milhões de alunos, 230 mil professores e 5,3 mil escolas e é baseada em um modelo administrativo anacrônico e burocrático. Elaborada a partir de 2008, a reestruturação necessária, cuja implantação já foi decidida pelo governador Geraldo Alckmin, proporcionará uma gestão muito mais ágil e eficiente.

Nosso Estado mantém três das melhores universidades do país, a Unesp, a Unicamp e a USP. Elas respondem por cerca de 40% de toda a produção científica brasileira de nível internacional. Produção esta que passou de 0,6% do total mundial no final dos anos 1980 para o atual patamar de 2,2%, perfazendo um dos mais significativos crescimentos entre todos os países. O desempenho dessas três instituições no plano acadêmico e, acima de tudo, no desenvolvimento econômico do país não aconteceu graças apenas a investimentos por agências de fomento. Esse avanço se deveu, principalmente, à inclusão, entre as prioridades institucionais, da valorização de recursos humanos por meio de plano de carreira e de política salarial. Nessas três universidades, para obter crescentes avanços rumo à excelência, foi fundamental a consolidação de quadros de docentes e de servidores técnicos e administrativos comprometidos com a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão. Temos a obrigação de seguir esse exemplo com os ensinos fundamental e médio do Estado. O Brasil precisa dos professores. Nosso objetivo maior é, portanto, a valorização dos profissionais do ensino público paulista. HERMAN VOORWALD, 55, é secretário de Estado da Educação de São Paulo, reitor licenciado da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e professor titular da Faculdade de Engenharia do campus de Guaratinguetá.

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> Diário Catarinense, 10/02/2011 - Florianópolis SC
Quem quer ser professor?
Lourival José Martins Filho
Recentemente, o Diário Catarinense publicou, na edição de 7 de fevereiro, a inquietante pergunta em matéria de capa: Quem quer ser um professor? A reportagem evidenciava a falta de condições das escolas, os baixos salários dos docentes e o ingresso cada vez mais raro de jovens nos cursos de licenciaturas e no exercício da docência na educação básica.

O que o DC mostrou é um impulso para que continuemos na luta por uma carreira mais digna e por políticas públicas que coloquem o professor como protagonista no fazer educacional. Vale salientar que não vai adiantar currículos reformulados e escolas reconstruídas se não valorizarmos, com a dignidade que merece, o sujeito que escolhe a docência como carreira e trabalho. A interação com o conhecimento e a socialização criativa aos alunos só pode ser feita com qualidade, pelo docente feliz no que faz.

Nossa inquietação porém, reside na pergunta de capa do DC, e registramos, então, algumas possibilidades de diálogo. Quer ser professor aquele que, da educação infantil à pós-graduação, fica feliz com uma pergunta da criança, jovem e adulto em processo de aprendizagem. Quer ser professor aquele que prepara uma aula com carinho, seleciona estratégias com intencionalidade e reconhece que todo ser humano é capaz de aprender. Quer ser professor aquele que compreende que nenhum saber é completo e definitivo e faz parte da docência o exercício da curiosidade, sempre com compromisso e humildade. Quer ser professor aquele que gosta de gente, do barulho das crianças brincando, do renovar-se com os jovens e adultos. Temos a plena convicção que muitos querem “ser professor”, o que não querem é que a docência seja um anexo ou bico, e sim opção de vida e de exercício profissional num mundo ainda com tanto para se fazer.